A polícia deve usar imagens do circuito de vigilância de uma casa para tentar identificar os suspeitos de assassinar o advogado Jakson Souza e Silva, de 45 anos, com um tiro. Ele foi morto no fim da noite de sábado (24) em uma rua do bairro Redenção, na Zona Centro-Oeste de Manaus. Jakson era presidente da Subseção da Ordem dos Advogados do Pará (OAB-PA) em Parauapebas – município do Pará a 719 km de Belém. A diretoria da Ordem no Pará acredita que o crime foi encomendado. A Polícia Civil do Amazonas não descarta a possibilidade de latrocínio, roubo seguido de morte.
O titular da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), Ivo Martins, afirmou que a polícia também tenta descobrir se o advogado foi seguido do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, situado na Zona Oeste de Manaus, até o local do crime.
Segundo o delegado, Jakson Silva veio a Manaus para o aniversário de uma amiga. O advogado voltaria ao Estado do Pará na quarta-feira (28). “Ele desembarcou em Manaus por volta de 22h30. Pegou um táxi e foi para a casa da amiga. Ele parou em um local antes para comprar comida. Antes de entrar na residência, ele foi atingido. A gente tem uma imagem de uma casa do lado, em que duas pessoas chegam ao local de moto por volta do horário descrito na denúncia [23h30]. Em contrapartida, a gente tem um depoimento que coloca a motocicleta em outro local. Estamos confrontando as informações para ver qual das duas motos pode ser realmente aquela que participou do crime”, informou Ivo Martins.
Inicialmente, a polícia havia informado que nenhum pertence do advogado havia sumido. No entando, na noite deste domingo, o delegado Ivo Martins afirmou que o celular do advogado não foi encontrado. “Ele estava com algo em torno de R$ 2 mil. Nada foi levado, com exceção de um celular. Não sabemos se quem levou o celular foi o infrator [atirador] ou se foi alguém que o encontrou na rua. Mas, a gente já está, através do chip, localizando esse celular para poder recuperá-lo”, disse o delegado.
Ainda de acordo com o titular da DEHS, uma equipe do Insituto de Criminalística foi ao local do crime para fazer perícia e reconstituição do caso. As investigações são conduzidas pela polícia do Amazonas com o apoio da polícia do Pará. “Inclusive, eles já estão nos auxiliando com informaões relacionadas às ameaças de morte que ele vinha sofrendo lá. Estamos em contato total com a Secretaria de Inteligência do Estado do Pará”, afirmou Ivo Martins.
Embora investigue uma suposta execução, a polícia não descarta a hipótese de latrocínio. “A gente precisa estabelecer com exatidão, para não ter nenhuma precipitação a respeito da motivação, se realmente foi um assalto ou se foi uma execução. Não descartamos o assalto porque, infelizmente, é comum as pessoas serem assaltadas vindo do aeroporto portando malas. A gente também está com as imagens do trajeto dele desde o aeroporto para saber se ele foi seguido. Enfim, a gente está em um trabalho de coleta de provas”, disse o delegado.
O delegado informou ainda que a amiga do advogado e outas pessoas serão ouvidas ao longo desta semana.
Crime
O assassinato ocorreu por volta das 23h40 de sábado na Rua 15 de Outubro. De acordo com a Polícia Civil local, a autoria do crime é desconhecida. No entanto, testemunhas afirmaram que a vítima foi abordada por dois homens em uma motocicleta, enquanto andava em via pública. Um deles efetuou o disparo, que atingiu o abdômen de Jakson Silva. O advogado chegou a ser socorrido por populares e levado ao SPA Alvorada, mas não resistiu aos ferimentos.
Ainda segundo a polícia, com a vítima, teriam sido encontrados R$ 1.900 em espécie, um notebook e um smartphone.
Ameaças
A diretoria da OAB-PA decretou luto oficial de três dias pela morte do advogado. Uma comitiva da Ordem veio a Manaus neste domingo (25) para tentar a remoção do corpo de Jakson Silva para o município de Parauapebas, no Sudeste do Pará, onde ele será velado e sepultado.
O presidente da OAB-PA, Jarbas Vasconcelos, afirmou que o nome de Jakson Silva estava numa lista de pessoas ameaçadas de morte. “Tudo nos leva a crer que esse foi mais um brutal assassinato ligado ao exercício profissional da advocacia e que trata-se, portanto, de uma gravíssima violação das prerrogativas”, afirmou Jarbas Vasconcelos.
Segundo Vasconcelos, o advogado investigava denúncias de improbidade administrativa na Prefeitura de Parauapebas. “Ele foi ameaçado gravemente por denúncias feitas em contratos de licitação na Prefeitura. Então, essa é uma linha que tem que ser investigada”, disse ao chegar a Manaus.
Desde 2011, sete advogados foram assassinados no Estado do Pará. Segundo a OAB, são inúmeros os registros de queixa dos profissionais por ameaças de morte, entre eles o de Jakson de Souza e Silva, registrado no dia 10 de janeiro de 2014, após receber um bilhete ameaçador enquanto estava em um restaurante.
Há um ano, durante reunião que aconteceu na sede do Ministério Público em Belém, o presidente da Ordem, Jarbas Vasconcelos, apresentou dados que demonstravam a existência de organização criminosa contra advogados e políticos. A reunião aconteceu após denúncias divulgadas nos meios de comunicação de Parauapebas que afirmavam a existência de suposta lista de “marcados para morrer” naquele município, dentre os quais estava o nome do advogado Jakson de Souza e Silva.
Em ofício encaminhado ao Promotor de Justiça Coordenador do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado, Milton Menezes, a OAB explica que a ameaça foi denunciada por meio do “disque denúncia de Parauapebas” e por bilhete deixado em um restaurante no município.
O presidente da Ordem chama a atenção para o fato de que, em matéria veiculada sobre o assunto, um dos integrantes da lista, o jornalista Wandernilson Santos da Costa, que é um dos clientes do advogado Jakson em ações judiciais relativas a atos de improbidade administrativa no município, foi alvejado por dois pistoleiros na manhã do dia 13 de janeiro deste ano, ao sair de sua residência para trabalhar. Ele sobreviveu.
Além do presidente da OAB-PA, o conselheiro seccional Robério D’Oliveira e o vice-presidente da Comissão de Defesa das Prerrogativas da instituição, Rodrigo Godinho, vieram a Manaus neste domingo para acompanhar as investigações do caso. A comitiva foi à Delegacia de Homicídios, na Zona Oeste de Manaus, para repassar informações sobre as ameaças que o advogado vinha sofrendo no Pará.
Jakson Silva
O advogado era formado pela Universidade Federal do Estado do Pará (UFPA). Ele deixou esposa e quatro filhos, o mais novo com apenas 18 meses de idade. No ano passado, durante a cerimônia de abertura oficial da VI Conferência dos Advogados do Pará, ele foi agraciado com a Ordem do Mérito Advocatício, a maior honraria concedida pela OAB do Pará.
Jakson Silva era natural de Santana do Araguaia, no Sul do Pará. Ele exercia a profissão em Parauapebas, localizado no Sudeste do estado.
Na manhã deste domingo (25), a Prefeitura de Parauapebas publicou nota de pesar sobre o falecimento do advogado no site institucional. “O Governo Municipal, que sempre se mostrou parceiro da OAB, se solidariza e une em oração aos amigos e família da vítima neste momento onde somente o Criador poderá trazer paz”, diz trecho da nota.
Reportagem: Suelen Gonçalves, do G1 AM
Foto: Divulgação