Nasce, no povo brasileiro, um sentimento de indignação por toda essa situação e o caso se agrava ainda mais quando se olha, não apenas para a esfera federal, mas também para esfera estadual e municipal. Basta uma rápida pesquisa em jornais, revistas ou até na internet para se perceber que o problema é extremamente grave, pois alguns estados e muitos municípios estão na mesma situação.
A busca por satisfazer interesses particulares está fazendo o sistema político brasileiro apodrecer a cada dia. Aqueles que deviam colocar em primeiro lugar o interesse público desconhecem, assim eu acredito, o significado da palavra público, mas conhecem muito bem o significado da palavra interesse. Quando deviam trabalhar pelo interesse do povo, trabalham apenas por si e para si. Utilizam-se dos bens e do dinheiro do povo para satisfazer os seus desejos e caprichos. Quando muito fazem por outras pessoas, o fazem para aqueles que são seus aliados.
Não quero aqui fazer uma generalização descabida, pois apesar dos pesares, talvez ainda exista nos palácios dos governos e nas casas de leis políticos com boa índole, mas incapazes de frear a doença viral que tomou conta da política brasileira em todas as suas esferas. Estes, quando tentam fazer algo acabam sendo alvos fáceis. Há outros, que parecem não fazer parte da Panelona da corrupção, porém são omissos em suas responsabilidades de fiscalizar e, na intenção de se fazerem de bons mocinhos, utilizam o silêncio como argumento. Acreditem, silêncio e omissão apenas deixam margem para mais desconfiança.
Diante de tanta insegurança política, surgem as possíveis soluções: prisão dos corruptos e corruptores, impeachment, cassação dos direitos políticos quando se tratar dos governantes, impossibilidade de novos contratos com a União, Estados e Municípios quando se tratar de empresários e suas empresas. Já disse em outro texto e agora repito: quando um membro de um corpo não faz a sua função, ele deve ser cortado e jogado fora para não contaminar o restante do corpo. Um membro em putrefação tende a apodrecer todo o corpo.
Todavia, toda essa corrupção política, apesar de ser problema, é mais sintoma do que problema. Sintoma de um problema maior que afeta não só o corpo político, mas também o corpo social. Esse problema, por definição, pode ser chamado de falta de consciência moral. Muitos acusam políticos, empresas e empresários de serem corruptos, mas não pensam duas vezes ao furar uma fila, ao colar na prova, ao oferecer um graninha para alguma autoridade. Quanta disparidade entre o falar e o agir, entre o ser e o parecer, entre essência e aparência. Dessa forma, as soluções citadas acima não passam de paliativos para tratar os sintomas e não o verdadeiro problema.
Qual seria então a solução para esse problema? A questão é complexa e a resposta ainda mais. Será que é possível solucionar a falta de consciência moral?
Contra a corrupção, as leis devem ser aplicadas, todavia, para além de uma questão legal, a corrupção deve ser combatida na sua origem, aonde as leis não chegam. Assim passamos de uma questão legal para uma questão cultural e de caráter. As escolas terão uma função fundamental de inculcar nas futuras gerações um respeito para com os outros e para com a sociedade, porém o principal agente para a educação das futuras gerações denomina-se família, pai e mãe.
Como disse Mario Sérgio Cortella, professor da PUC São Paulo, em uma entrevista, a escola faz escolarização, o papel de educar é dos pais, a escolarização é apenas parte da educação. Daí depreende-se que, enquanto os pais não se tornarem relevantes na educação dos filhos, estes crescerão sem uma base para a formação da consciência moral. A educação não deve ser apenas com palavras, mas com atitudes e exemplos que farão nascer a responsabilidade não só para consigo mesmo, mas para com quem os cerca.
No mais, nós adultos, devemos ter em mente que valores éticos não devem ser colocados a venda em nenhuma circunstância. Honestidade, respeito são valores básicos para uma sociedade justa. Se nós não os temos e nem fazemos caso de tê-los sob situações mínimas; infelizmente caso pudéssemos estar um dia entre os protagonistas do teatro político, provavelmente cometeríamos os mesmos erros.
Finalizo com uma citação do filósofo alemão Immanuel Kant: “Age de tal modo que a máxima de tua vontade possa sempre valer ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal”.
Por: Anderson Carvalho dos Santos
Graduado em Filosofia (UFPA)
Mestrando em Educação (UFG)
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