Os números oficiais das oportunidades com carteira assinada foram divulgados na tarde da última segunda-feira (17) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE): Parauapebas demitiu 8.077 pessoas de janeiro a junho deste ano, contratou 7.485 no mesmo período e está com saldo negativo em 592 postos. É muito grave porque o município acumulava, até o final do ano passado, cerca de 39 mil e 500 desempregados. Agora, ultrapassou de vez os 40 mil.
De empregadora de destaque entre os anos de 2006 e 2013, a “Capital Nacional do Minério de Ferro” agora vive tempos de apreensão, ocupando a posição de número 134 entre os 150 piores municípios brasileiros para arranjar emprego com carteira assinada.
A reportagem do Pebinha de Açúcar procurou o engenheiro de minas André Santos, primeiro a anunciar os dados do Caged em Marabá, para entender o que está ocorrendo com a empregabilidade local. Especialista maior nos dados estatísticos referentes à região, Santos indicou que o mistério de tanta demissão é simples de compreender. “Parauapebas se cansou, por si mesmo, de viver à sombra da indústria extrativa mineral. Você se lembra daquela época farta, de empregos a mil e para os quais não havia sequer trabalhadores ditos ‘especializados’? Pois é, mandou lembranças”, adverte.
O engenheiro lembra que a fase gloriosa — com empresas em polvorosa, empregos fartos e mão de obra chegando de todos os lugares do Brasil — se deu com expansão das minas de ferro da Serra Norte de Carajás, por meio de um projeto da mineradora multinacional Vale denominado Adicional 40 Mtpa, que ampliou em 40 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro por ano a capacidade de produção da empresa, que atingiu 110 Mt em 2011.
“Com o projeto finalizado em 2013, os canteiros de obra começaram a ser desmobilizados e os trabalhadores, demitidos. Muitos até aproveitaram o embalo da implantação do S11D, em Canaã dos Carajás, avolumando o pico das obras, mas fatalmente também acabaram desempregados ao final do processo. Implantação de obra, por maior que seja, tem início, meio e fim”, explica o especialista.
1 REGIÃO, 2 REALIDADES
De acordo com André Santos, Parauapebas está passando por momento delicado que servirá para que o modelo de sustentação econômica local seja repensado. Ele diz que não adianta aparecer “Sassá Mutema” [salvador da pátria], prometendo milhares de empregos porque isso é ser leviano com a população. “A menos que se descubra outra reserva de minério de ferro do porte do Projeto Ferro Carajás, na Serra Norte, ou do nível de S11D, na Serra Sul, tudo continuará como está: o município produzindo muitas riquezas que geram bilhões e, em contraponto, um exército de desempregados que não tem como ser absorvido por uma indústria mineral altamente especializada, enxuta, que visa ao lucro e que não é bolsa de empregos”, contextualiza.
Na região de Carajás, Parauapebas, com seus 592 desempregados a mais, e Canaã dos Carajás, com 3.851 demitidos no semestre, são dois dos cinco municípios paraenses que mais eliminam postos de trabalho. Justamente os dois sobrevivem à custa da indústria extrativa mineral que tem a Vale como protagonista.
Por outro lado, em Marabá, que também abriga projeto da Vale, mas com economia diversificada e com forte apelo universitário, o número de empregos disparou no semestre, destacando a posição daquele município como centro comercial brasileiro em ascensão. “Marabá possui 12 mil jovens universitários atualmente, metade deles de outros municípios e até de outros estados. É praticamente toda a população urbana de Curionópolis fazendo curso superior, gastando com transporte, alimentação, moradia, material de consumo”, observa. “Os pais sustentam a moçada, e a roda da economia gira. As instituições de ensino superior injetam R$ 220 milhões na economia de Marabá, e os estudantes, outros R$ 150 milhões por ano”, completa o engenheiro, acreditando que investir em ensino superior em Parauapebas é necessidade urgente para iniciar uma nova concepção de “fazer dinheiro” por meio do investimento em capital humano e intelectual.
Enquanto Canaã é o 14º município que mais desemprega no Brasil e Parauapebas está entre os 140 piores, Marabá surge entre os 75 com mais vagas de trabalho criadas, notadamente no setor comercial, dada a abertura de grandes redes supermercadistas nos últimos 60 dias e que atraíram, a reboque, fornecedores. A comunidade é incentivada ao consumo, e todos ganham.
NÚMEROS MAQUIADOS
O drama estatístico vivido pela “Capital do Minério” não se encerra quando termina. O engenheiro de minas garante que o número de desempregados em Parauapebas é muito maior que o informado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), disponibilizado pelo Ministério do Trabalho, por várias razões.
Primeiro não são contabilizadas pelo Caged as demissões no serviço público. A Prefeitura de Parauapebas, por exemplo, está demitindo para equilibrar a folha de pagamento, e os desligados que se tornaram novos desempregos não são contabilizados. Depois, ainda tem peripécias envolvendo a Vale, maior empregadora da indústria mineral. A mineradora contrata trabalhadores para Canaã e Curionópolis como se estes fossem estatisticamente contabilizados como sendo de Parauapebas. Assim, muitas vezes Parauapebas apresenta saldo de emprego positivo, mas na verdade os trabalhadores estão em Canaã ou Curionópolis. Ou, também, pode apresentar saldo positivo estando, na verdade, negativo, já que há possibilidade de apresentar postos que não sejam efetivamente seus.
“Quem quiser confirmar, basta entrar no portal do Caged e esmiuçar as situações municipais. Você vai descobrir, por exemplo, que Canaã dos Carajás tem estoque de apenas 35 trabalhadores na indústria extrativa mineral”, revela o engenheiro. “Ora, mas como assim, apenas 35 trabalhadores, se há dois grandes projetos mineradores lá, o Sossego, de cobre, e o S11D, de ferro, empregando mais de 3.000 trabalhadores fixos na operação? Simples: os trabalhadores dos projetos de Canaã, assim como os do projeto Serra Leste, em Curionópolis, aparecem no Caged de Parauapebas porque a sede administrativa da Vale é neste município. Já os funcionários do Salobo aparecem no Caged de Marabá, visto que a contratante é a Salobo Metais, empresa controlada pela Vale, que detém 100% de seus direitos”, explana.
Essa maquiagem nos números mascara a real situação do desemprego em Parauapebas, diz o especialista. “E é muito grave porque você pode acabar implementando determinada política pública para geração de emprego e renda com base em dados subestimados. É preciso estar atento aos números do Caged e saber fazer análises e correlações corretas porque uma estatística mal esmiuçada conduz a muitos embaraços, do ponto de vista político e social”, encerra.
Reportagem: Da Redação do Portal Pebinha de Açúcar